Relógio de espelhos

Qual é a cor de uma paisagem que não muda? Sorrio tapando os olhos, respingando água com açúcar. De manhã o dia é cinza escuro, as pessoas cinza claro, e no meu cinzeiro... cinzas! A noite as estrelas estão pelo céu e pelo chão, pisque os olhos e elas desaparecerão!  Refletida no meu relógio de espelhos, vejo as horas e me perco. De um lado:  fôlegos para rabiscos, flores para recomeços. Do outro: migalhas para voltar, sentido para andar...  Colori minha ilha de azul, contornei o sol de amarelo, agora vou olhar para fora e observar o que pode ser belo!

Um inteiro

Da arte para os muros ele clareia o que há no escuro, da poesia inventada pras cores na roupa manchada,  carrega o peso do mundo nas costas e não espera respostas. O que não é pra ser é melhor deixar passar, a mala esta sempre pronta, com mais lembranças pra guardar...  E o consolo de ser a metade de um todo é tão real e verdadeiro, como dois meios formam um inteiro. Assim a vida dele segue... com passos largos e mente leve... o que basta,  já serve, mesmo que seu tempo seja breve...

 

Uma poesia torta para alguém que não se importa!

Pisciana nata regida por nada, ela é o acaso de si mesma. Odeia precisar de alguém mais legalizou a carência e agora marcha sozinha ao som da própria sutileza. Sente pena da eternidade, gosta de sacanagem, não discute por bobagem! Não acredita em final feliz, embora tenha no fundo a esperança de encontrar tudo que um dia  já quis. Ela é o doce do meio amargo. Desprotegida, o que é complicado ela descomplica. Ela é o vice-versa, a porta meio aberta. Ela é a cortina colorida no quarto sem vida, ela é o dedo na propria ferida. O lado bom que esconde o mal, uma pagina em branco ou a de um jornal. No fundo ela não passa de uma poesia torta para alguém que não se importa!

Contramão

Não tem. Li inúmeras poesias, textos,  fábulas, bulas, muros a meia luz, capas de revistas, corpos nus, e não encontrei algo que faça isso passar... Fujo dos possíveis encontros porque sei o que quero encontrar. E dessa maneira terna veja meu caro rapaz, tudo de antes agora é mesmo fugaz! Nos saltos para o que interessa a altura corresponde a profundidade dos suspiros, então responda: o que afinal você quer comigo? Não somos a dúvida, somos a lógica, fugindo do comum o abstrato se transforma!  Eu te leio, você me lê, mais o que há por trás do não dito, do que só foi escrito? Posso permanecer sentada na sua frente até que você perceba, ou que finalmente me veja... Estamos no centro, no eixo, e tudo a nossa volta roda, gira na contramão, mas só darei um passo se você puder segurar minha mão.

Escorregador

Colocando toda verdade pra fora da minha língua comprida, tive a sensação de deslizar sobre o escorregador colorido no jardim molhado, caindo de bunda na areia. Não doeu, mais magoou um pouco!  Melhor ficar parada e ver tudo passar diante do meu nariz e só sentir uma coceirinha. Para ser mais é preciso ser várias, garotas más tendem a falar o que pensam e com pressa. Não vou mais traduzir suas gírias, nem ficarei te observando passear, muito menos arrumarei minha cama pra te esperar. Caso queira dividir algo comigo posso te levar até o meu escorregador colorido!

Lobo e cordeiro

De tantas coisas que queres fazer, que eu seja uma. Somos o lobo e o cordeiro, avanço sobre ti querendo seu viço, sua carne. É tanto pra ser nada, como poderia não ser? Torno-me um sobre uma, uma sobre um. Suspirando sobre instintos embriagados, passeio por sua pele a procura de mais, um gole de você pra noite finalmente adormecer.

Chega de ausências

Diga a verdade e aceite a maneira como o universo funciona. Acredite naquilo que sua mente automaticamente critica mas é capaz de compreender. Sendo pessoal e político, micro e macro, ocupe lugares. Seja um turbilhão sentimentalista preenchida de amor mais não espere garantias. Desça ao rumo do seu próprio eixo em silencio. A felicidade não é um golpe de sorte, então por que não se arriscar? Da gangorra à forca a resposta está do lado de dentro. Chega de ausências!

Bem-me-quer

Vendi minhas promessas. Arranquei todas as pétalas esperando a resposta no bem-me-quer mal-me-quer... Tanta gente nunca cansa de se enganar! Por que não se senta. Quer um chá? Já sabemos que as histórias tem um começo e um fim. Mas há um momento, em um lugar especifico que você encontra seu meio. Que seja assim!

Deixa ser

Numa linha tremula entre os velhos e puros pensamentos, uma nova compreensão. Ninguém vive de instantes, é muito difícil ser constante. Silencio meus medos, mais as vezes não importa o que faça, será insignificante. Assim, me sinto uma aprendiz parada na fronteira da eterna mutação, com uma caixa absoleta cheia de infinitudes. Por que não se deixa ser...

Você vem?

Um alívio no peito e todo espaço em forma de sopro sacudiu meu cabelo.  Seu desenho me veio refinado e cerebral num silêncio grávido de significados. Suas cores cintilavam minha pupila amendoa. Eu que era tão esperta deixei a porta aberta. Vi a vida a ver o trailer. Sua voz doce acalmou minha respiração. Levou-me num passo, lavou meu compasso. O sorriso ousado apareceu. Amanheceu! Vamos dar uma pausa  nas horas que voam para armadilha sedutora dos dias amarelos. Afinal nosso tempo não é contato no relógio dos outros... Lá fora não podemos nos esconder, você vem?

Rindo de atrasos

É um vício viver o instante. Amar o que afunda. Escrever o que outro pensa. Indagar sobre o tempo rindo de atrasos. Calar o grito com suspiros. Procurar sobras para as frases inacabadas. Fraquejar nas esperanças involuntárias. Não pertencer a nada se encaixando em muitos. Se apaixonar por possibilidades. Amortecer a queda. Beber as chances no gargalo. Levar a poesia pra comprar cigarro...

Tornei-me ar, voei com o vento!

Eu te pedi pra ficar...

Eu te pedi pra ficar. Me vesti de prazer numa doçura provocada, pus-me um sorriso de canto sem nenhuma ilusão inventada. Eu te pedi pra ficar. Troquei de musica e sai cantarolando pelos cantos, as maças coradas revelavam encantos. Eu te pedi pra ficar. Vivi um romance, escrevi um drama, garanti sorrisos, grandeza, pureza, reconheci vontades, me invadi de suplicas, encontrei abrigo, tomei ar  pra saciar meu ultimo pedido. Eu te pedi pra voltar...

Pra todo momento certo há um errado, pra cada sentido um novo compasso, é assim deixar-se entender e querer o que for possível receber?

Tem dias que passam no tempo... tem dias que eu nem aguento!

Na minha imaginação estimulada, nada é contido, tudo é completo, sem resumos, permito-me.

O vazio deixa dúvidas... preciso de respostas.

Instantes

Suspirou fundo, quis sentir aquele instante como a ultima gota de água que escorria quente pela garganta áspera. Nenhuma expressão faltava. Os olhos enleados pelo frio do dia acompanhavam o movimento do corpo que se colocava frágil ao estender-se na cama. Sentia o coração latejar no ouvido direito. Não se bastava. Suas mãos passeavam suaves pelo lençol de linho branco... ela procurava a calma, a alma... 

Ontem não teve lua, e hoje nenhum raio de sol me alcança...

Então o arco-iris aparece, enquanto a tempestade se afasta...

Para desaparecer...

É difícil ver a beleza se esvaindo num céu sem cor e levando meu dia inacabado, o meu cigarro amassado, minha falta de coragem, minha cabeça cheia de bobagens, o meu sorriso sem amor, a minha dor. Atrás do meu passo corrido levou meu segundo perdido, meu tempo contínuo, minhas pretensões esgotadas, minha chance de ser nada, minha audácia enganada... Vai... agora leve embora toda a minha sanidade e minha poesia pela metade.

Você sorriu com os olhos esperando respostas, meu silêncio respondeu sorrindo esperando olhares...